Escrito em 26/12/18

IGREJA ASSEMBLEIA DE DEUS GUARAÍTA - GO

 História, Crescimento e Atuação (1950-2018)

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Marisa Soares de Oliveira e Damiana Antônia Coelho

Alunas do Curso em Teologia Modular do Centro Teológico FATAD

Artigo - <br />
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Resumo: A proposta deste estudo é discutir sobre o papel desempenhado pela Igreja Evangélica Assembleia de Deus de Guaraíta-GO. Com o objetivo de entender o processo de instalação da referida igreja na região, as principais características do contexto histórico, as transformações ocorridas ao longo da história. Partimos do ano de 1950, data em que registra as primeiras conversões na região e consequentemente a construção do primeiro templo na região até o ano de 2018, momento final da pesquisa. O artigo foi dividido em três partes, na primeira realizamos um percurso histórico do surgimento da Igreja Evangélica Assembleia de Deus no Brasil, na segunda enfocamos a chegada desta instituição em Goiás e na terceira destacamos os aspectos históricos da fundação da instituição na região que corresponde o município de Guaraíta-GO. A metodologia utilizada para o desenvolvimento da pesquisa foi a revisão bibliográfica pautada em autores como Almeida (1982), Morais (2002), Bíblia Sagrada (2010), Brandão (2001) entre outros que destacam o processo de desenvolvimento do cristianismo e formação da Igreja Evangélica Assembleia de Deus. Também foi realizada a pesquisa de campo por meio do levantamento das fontes orais, documentos e fotografias sobre o tema em questão. Em síntese, após aproximadamente 60 anos de atuação na região de Guaraíta-GO, a Igreja Evangélica Assembleia de Deus conta com 825 membros e congregados e atua tanto na propagação do evangelho, como no social, como forma de cumprir com a missão dada por Jesus Cristo em Atos.

Palavras-chave: História. Igreja. Guaraíta. Evangelho.

[1] Artigo apresentado como requisito para a conclusão do Curso em Teologia Modular pelo Centro Teológico Fatad. Sob orientação da professora Ma. Fabrízia Lúcia da Costa Coelho e do professor Esp. Valdeci de Almeida Coelho. Turma 2018.

[1] Aluna do Curso em Teologia Modular. Mestra em Ciências Sociais e Humanidades no Programa de Pós-Graduação Territórios e Expressões Culturais do Cerrado - TECCER (UEG-Câmpus Anápolis). Possui Especialização em Psicopedagogia Institucional (2010) pela Faculdade Delta e em Neuropedagogia Aplicada à Educação (2013), pela Faculdade Brasileira de Educação e Cultura (FABEC). Graduada em História (2006) pela Universidade Estadual de Goiás (UEG-Câmpus Itapuranga). Atualmente é Professora efetiva de História na Secretaria Municipal de Educação de Guaraíta-GO e no Curso de História da Universidade Estadual de Goiás, Câmpus Itapuranga. Possui o curso de Teologia Básico pela Faculdade Faifa Extensão.

[1] Membro da Igreja Evangélica Assembleia de Deus de Guaraíta-GO. Aluna do Curso em Teologia Modular. Possui o curso de Teologia Básico pela Faculdade Faifa Extensão. Funcionária Pública da Prefeitura Municipal de Guaraíta-GO.

Introdução

                   Este estudo consistiu na apresentação do papel desempenhado pela Igreja Evangélica Assembleia de Deus de Guaraíta-GO. A ausência de pesquisas relacionadas ao assunto trouxe a necessidade de abordar a história desta instituição, tendo em vista que as pessoas que testemunharam os primórdios desse contexto, encontram-se em idade avançada e muitos já faleceram, sem contar que as fontes históricas como fotografias pertencem a particulares e suas famílias o que dificulta o acesso às informações.

                   Os objetivos consistem em compreender o processo de instalação da referida igreja na região, as principais características do contexto histórico, as transformações ocorridas ao longo da história e contribuir para a elaboração de um histórico da instituição. O período compreendido pela pesquisa se estende do ano de 1950, data que corresponde a conversão dos primeiros membros da Igreja na região que corresponde ao município de Guaraíta até o ano de 2018.

                   Para melhor compreensão do assunto o artigo será dividido em três partes, a primeira corresponde ao histórico de surgimento da Igreja Evangélica Assembleia de Deus no Brasil, a segunda ao desenvolvimento em Goiás e a terceira aos aspectos históricos da fundação da instituição na região que corresponde o município de Guaraíta-GO.

                   A metodologia utilizada para o desenvolvimento da pesquisa foi a revisão bibliográfica e a pesquisa de campo por meio do levantamento das fontes orais, documentos e fotografias sobre o assunto.

                   Em síntese, observa-se que desde a sua origem na região de Guaraíta-GO, a Igreja Evangélica Assembleia de Deus exerce um papel fundamental no processo de formação da comunidade, em sua maioria evangélica, e isso demonstra a atuação da mesma na área espiritual e social, com vista o bem-estar de seus membros e a propagação do Evangelho.

1. O surgimento da Igreja Evangélica Assembleia de Deus no Brasil

A história do Brasil desde sua colonização, mostra que este é um país cuja presença do cristianismo deu-se desde a chegada dos europeus em nossa terra. Assim, para compreender melhor como as várias designações religiosas, oriundas da religião cristã tiveram origem no país, é fundamental conhecer os movimentos de fé que ocorreram no território que corresponde o Brasil, para então abordarmos a temática proposta.

Conforme estudamos nos livros de história, desde o século XVI, quando os portugueses atracaram no litoral baiano, trouxeram consigo representantes da igreja católica que disseminaram uma perspectiva de fé, que na Europa já estava sendo contestada, sobretudo pela ocorrência da Reforma Religiosa empreendida por Martin Lutero. Entretanto, no Brasil, como tal manifestação não fosse conhecida, o catolicismo foi implantado como doutrina oficial, pela qual o cristianismo seria apresentado aos nativos. Conforme postula, Sorj (2000, p. 36)

O cristianismo chegou ao Brasil já no descobrimento territorial por parte dos portugueses em 1500, com o catolicismo e em 1532 chega o primeiro protestante, sendo que umas das primeiras ações de Pedro Álvares Cabral foi organizar uma missa em nosso território e a partir daí acabou por fixar profundas raízes cristãs em nossa sociedade que perduram até os dias atuais.

Diante da abordagem apresentada pelo autor, é possível perceber que a introdução de uma cultura religiosa na nova terra foi uma das primeiras iniciativas para implementar uma religião oficial, estabelecendo a partir de então movimentos para tornar os nativos adeptos do cristianismo. Também nesse sentido, pode-se dizer que há desde o início da colonização o firme propósito do povo português de introduzir uma religião na qual os povos indígenas seriam conduzidos a não praticarem outra religião, que não a cristã.

De modo específico, procuramos neste artigo retratar como surge no Brasil a Assembleia de Deus. Diante disso, é fundamental dizer que as experiências antecedentes a essa estrutura religiosa, ocorrem no país desde o final do século XVI, quando os franceses fundam no Brasil a colônia França Antártica, uma colônia cujas bases religiosas alicerçavam-se no protestantismo, já bem difundido na Europa, objetivando explorar economicamente a colônia, assim como os holandeses e portugueses. Ao falar sobre a fundação da colônia França Antártica, bem como da invasão francesa no Brasil, logo após o início da colonização, Perrone-Moisés (2011, p. 14) diz que:

Em 1555, franceses calvinistas invadiram o Brasil, na região do Rio de Janeiro. Estes franceses estavam fugindo da perseguição religiosa executada pela corte francesa. Liderados pelo almirante Nicolau Villegaignon, fundaram, na região do atual município do Rio de Janeiro, uma colônia francesa chamada de França Antártica. Os franceses obtiveram o apoio militar dos índios tamoios, que eram inimigos dos portugueses.

Mediante as considerações da autora, observa-se que as bases da doutrina evangélica estavam lançadas, sob o intuito de evangelizar, mas também de explorar economicamente o território brasileiro. Outro movimento semelhante ocorre no início do século XVII, no Nordeste brasileiro, daí se difundem as bases na qual se sustentam desde o início da colonização a doutrina evangélica. Como já dissemos, além dos franceses, houve o interesse de outros povos de disseminar o evangelho e lucrar com a nova terra. É dessa maneira que os holandeses também impetram processo de invasão na Bahia, e mais tarde em Pernambuco por volta de 1621 buscando, sobretudo, a produção açucareira para manter economicamente o comércio ultramarino.

A partir de então, a presença de missionários tanto franceses, quanto holandeses no território brasileiro, são demonstradas em alguns aspectos, entre eles a religiosidade e o envolvimento com a disseminação da fé, mormente a partir de 1630, quando ocorrera a invasão da Bahia e mais tarde de Pernambuco. Assim, a presença de movimentos protestantes, passam a ocorrer, dando origem partir do século XVII a doutrina evangélica, iniciando a pregação da fé a partir das missões jesuíticas, que fez surgir pelo Brasil um considerável número de igrejas, como assevera Almeida (1982, p. 9)

Havia igrejas em diversas cidades; pregava-se a fé entre os indígenas, portugueses e negros; imprimiu-se na Holanda um catecismo redigido em holandês, português e tupi-guarani; formavam-se professores indígenas nacionais, divulgou-se a Bíblia e cuidou-se da pregação em português.

Considerando a vertente apresentada pelo autor, observa-se que no início da colonização, não se distinguiam os movimentos religiosos como sendo estes católicos ou protestantes, vivia-se a pregação do evangelho e a propagação da fé cristã, a partir dos jesuítas. Ao longo do período colonial e mesmo depois da independência, a propagação da fé e do evangelho tornaram-se cada vez mais necessárias, pois com a formação de novas cidades no interior do Brasil, ocorre também o crescimento populacional, que a sua maneira vislumbravam pertencer a um credo religioso, sobretudo por considerar a necessidade de salvação, tema muito trabalhado pelas igrejas cristãs, desde a antiguidade.

Sob as bases do cristianismo brasileiro se alicerçaram várias doutrinas religiosas, que ao longo da história do Brasil, vão oportunizando a formação de um sincretismo religioso, ou uma múltipla cultura religiosa, na qual se assentam também a implementação de várias outras religiões vindas de outros países ou formadas dentro do território brasileiro. Dessa maneira, são exemplos de doutrinas que pregam o cristianismo no Brasil, a Igreja Católica, Presbiteriana, Metodista, Adventista, Assembleia de Deus, a Igreja de Cristo, Brasil Para Cristo e outras que segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e estatística IBGE, somavam até 2016, 289.781, um número de igrejas que, dentre outras coisas, ressalta como o número de evangélicos vem crescendo no país.

O termo evangélico, segundo revela o IBGE (2016), pode ser dividido em duas subcategorias, pois apresentam definições amplas, que definem o tipo de trabalho cada uma dessas categorias de cristãos. Assim, o referido órgão salienta que são evangélicos, pessoas que professam as doutrinas, “presbiterianos, batistas, metodistas, menonitas, adventistas etc” e os neopentecostais, que entre outras formas de evangelização desenvolvem atividades relacionadas a comunicação de massa e pregação extremamente voltada para salvação (IBGE, 2016).

Em relação a igreja Assembleia de Deus, sua trajetória no Brasil é um pouco mais recente, tendo em vista que o catolicismo era muito forte e grosso modo salientavam uma identidade que formara-se nos primórdios de nossa colonização. Nesse contexto, o surgimento do pentecostalismo, especificamente da Assembleia de Deus, no Brasil, tem influência marcante de dois jovens, Gunnar Vingren e Daniel Berg, vindos da Suécia, que viajavam pelo mundo pregando o batismo pelo Espirito Santo e a volta de Jesus. A propagação do pentecostalismo, realizada por eles, alicerçava-se fundamentalmente na vertente proposta por Almeida (1982), cujas bases destacam a homogeneidade da doutrina evangélica (ALMEIDA, 1982).

A difusão do evangelho e do pentecostalismo, viabilizadas no território brasileiro destacam na pregação da fé, uma maneira distinta da religiosidade católica, uma vez que que norteiam os ensinamentos bíblicos, a partir de pentecostes, que conforme a Bíblia (2010) livro do Êxodo capítulo 23, representa “Páscoa, celebrada junto à dos Ázimos ou Asmos; a segunda é a Festa das Colheitas ou Semanas que, a partir do domínio Grego, recebeu o nome de Pentecostes; finalmente, a festa dos Tabernáculos ou Cabanas”. Dessa forma, os evangélicos, adeptos das pregações de Gunnar Vingren e Daniel Berg, espalham por todo o país a ideia de uma fé cujo intuito era pregar a salvação tendo como alicerce para tal a vinda de Jesus Cristo (BRANDÃO, 2001).

Durante os primeiros anos do século XX, Vingren e Berg se propuseram ao trabalho missionário, e foi a partir de então que empreenderam atividades de evangelizar no território brasileiro, de modo específico numa região do país cujo trabalho com a produção da borracha era reconhecido nacional e internacionalmente. É no Pará que a difusão da Assembleia de Deus emerge com maior intensidade, já por volta de 1910, a partir da chegada dos missionários suecos, vindos dos Estados Unidos, e pregavam um batismo distinto do realizado pelas demais igrejas evangélicas e católicas da época (ALMEIDA, 1982).

A motivação na palavra trazida pelos jovens missionários, foi gradativamente fortalecendo o interesse do povo brasileiro, primeiro no Norte do país e depois nos demais estados brasileiros que viam crescer o pentecostalismo e pouco a pouco, foram surgindo, além das igrejas Batista, Metodista, Presbiteriana, templos da Assembleia de Deus criados a partir da pregação de Vingren e Berg (MORAIS, 2002).

 No caso paraense, a primeira comunidade a formar uma igreja Assembleia ocorre em 1918, registrada oficialmente, conforme salienta Almeida (1982, p. 27) “No dia 11 de janeiro de 1918, foi registrada, oficialmente como Assembleia de Deus, primeira igreja no mundo a adotar esse nome. Não era uma igreja filiada a alguma missão estrangeira, mas era genuinamente brasileira”. Diante da abordagem dada pelo autor, compreende-se que o primeiro passo para a formação desta igreja no território brasileiro, decorre das experiências no evangelho, oriundas das reformas religiosas ocorridas na Europa e dos movimentos missionários propagados mundo a fora.

Nos demais estados brasileiros, com os estímulos da igreja no Pará a Assembleia de Deus logo se difundiu estabelecendo-se em cidades como Bragança- Pará, Rio de Janeiro, Belo Horizonte, Minas Gerais, Rio Grande do Norte entre outras. Durante a primeira metade do século XX, motivados por uma pregação que vivificava o Espirito Santo, bem como um batismo de conversão, os suecos Vingren e Berg, iniciaram um processo de evangelização baseando-se no ideal pentecostal. Assim, expande-se no Brasil, de 1910 aos dias atuais o neo-pentecostalismo, cuja proposta reitera a narrativa mítica, segundo a qual os instrumentos de Deus lançaram as sementes da principal denominação pentecostal (ISAIA, 2014).

2.  Do Brasil para Goiás, o percurso histórico da Assembleia de Deus

A trajetória da Assembleia de Deus marcada pela chegada de Vingren e Berg no início do século XX ao Brasil, marca a origem de uma onda de transformações no cenário político, econômico e religioso do país. Motivados pela ação missionária, os viajantes suecos, desembarcam no Pará formando a primeira igreja Assembleia de Deus no Brasil. Partindo da propagação de um evangelho, no qual o batismo se dá pela imersão nas águas, como símbolo da purificação, a proposta de evangelização pentecostal ganha o país, espalhando-se por todo o território.

Nesse tópico, trataremos de maneira específica da presença da Assembleia de Deus no Estado de Goiás, embora, para tal, precisemos de abordar o desenvolvimento desta nas demais regiões, nosso foco é a presença pentecostal da Assembleia de Deus no estado goiano. Diante disso, a abordagem apresentada, parte do pressuposto de que a evangelização nos moldes cristãos, chega a Goiás, com as expedições exploradoras conhecidas como bandeiras, ainda no século XVII. Procurando expandir e explorar a região, ao conquistarem o território, estabelecendo acampamentos, propiciaram a formação de vilas e cidades que mais tarde reivindicariam diferentes estruturas sociais. É nesse contexto que a presença da igreja e do cristianismo se desenvolveu no Estado de Goiás.

As primeiras instalações de arraiais foram acompanhadas pela presença de pessoas religiosas, geralmente representantes da igreja católica. Dessa forma, as primeiras vilas formadas pela mineração, que não demorou a se escassear proporcionou o surgimento de comunidades que em busca do ouro fixavam moradia em Goiás, instituindo dessa forma diversos caracteres de um processo de urbanização, embora ainda bem primário. Ao falar sobre a formação da cidade, Bueno (2009, p. 3) diz que:

Crescendo sua expressão populacional, econômica e edificada, terá aumentado sua aspiração a outra categoria institucional, a outro tipo de reconhecimento por parte da sociedade organizada, em meio à divisão territorial estabelecida pelos poderes constituídos, enfim, por parte do Estado. A sua aspiração seguinte seria constituir não mais um embrião oficial, a célula menor eclesiástica e administrativa, porém algo mais, que não se referia apenas ao tamanho ou à ascensão gradual hierárquica: seria alcançar a autonomia política e administrativa, seria passar a constituir sede de um município, passar a zelar por si mesma, aglomeração, e por um território próprio correspondente que lhe seria designado, seu termo.

As considerações tecidas pela autora mostram que a transformação dos arraiais e vilas impulsionavam também a estruturação de partes significativas da vida urbana, para tanto, consideravam-se necessárias estruturas administrativas e eclesiásticas que constituem as bases da vida urbana.

A formação de cidades, a partir de então motivou distintas formas de culto, tendo o catolicismo o maior número de adeptos, porém outras formas de culto se desenvolveram, formando também no centro oeste a exemplo dos demais estados brasileiros uma religiosidade bastante eclética. Ao longo dos séculos XVIII o crescimento e povoamento do Estado foi se ampliando, de maneira distinta dos estados da região sudeste, Goiás ainda vivesse um processo de urbanização bastante sucinto.

Ricamente povoado por diferentes ideais de religião, o estado de Goiás passa, a partir dos séculos XVIII e XIX, a conviver com experiências religiosas bem distintas, numa mescla que prenunciava a chegada do protestantismo, impulsionando ainda mais a variedade de manifestação da fé de uma população de características múltiplas. A doutrina católica, professada em sua maioria desde a colonização do Brasil e de Goiás com seus percalços em alguns aspectos provocava o descontentamento da população, que por vezes ficava sem a realização de sacramentos como o batismo, o casamento e a estrema unção, em virtude do número reduzido de sacerdotes a época.  A esse respeito, Polonial (1997), apud Morais (2002, p. 82) assevera que: “Muitas vezes, seus sacerdotes continuavam a estar ausentes por longos períodos, visitando zonas rurais mais distantes”. O que em alguns casos fortalece a busca de outras doutrinas para manter a fé acesa.

No início do século XX por exemplo, a chegada a Goiás dos primeiros missionários protestantes cuja proposta de evangelização, bem mais estruturada que no catolicismo inauguram um momento significativo para o pentecostalismo. Reginaldo Young e Frederick Charles GLASS, missionários que por meio da ferrovia do café chegaram a Catalão, disseminando o evangelho e o pentecostalismo, que durante a primeira metade do século vem se espalhando (MORAES, 2002).

Na década de 1930, momento primordial para a estruturação do urbanismo em Goiás, a construção de Goiânia tornou-se marco na história do estado, vez que tal momento representava para a região um processo de maturação e crescimento do estado, pois, Goiânia representava um ideal de cidade, na qual o desenvolvimento do estado se daria, vez que a mesma localizava-se numa região bastante acessível (MORAES, 2002).

Seguindo então na primeira metade do século XX, o ideal evangelizador e missionário, desenvolveram-se no estado distintas doutrinas religiosas. Igrejas de várias denominações foram fundadas, viabilizando maior contato da população com o evangelho e também com a forma de evangelizar. A propagação da fé cristã, que desde o século XVII vinha sendo realizada com o catolicismo, começa a ser propagada também pela crescente onda pentecostal iniciada no Pará no ano de 1910 e em Goiás com a chegada dos missionários, Reginaldo Young e Frederick Charles GLASS.

Nesse contexto de propagação da fé, a fase de construção e acabamento da cidade de Goiânia, contribuiu imensamente com a difusão da fé, sobretudo para a implantação da Assembleia de Deus, que conforme retrata Almeida (1982, p. 335)

Em 1936, Goiânia era uma cidade em fase de acabamento. Isso atraía artífices, operários e negociantes. Dentre as muitas pessoas que se dirigiram para ali, havia um grupo de evangélicos da Assembleia de Deus em Madureira, Rio de Janeiro, que aproveitando o ensejo, anunciaram as boas-novas.

Percebe-se na vertente abordada pelo autor que o território goiano, teria na cidade de Goiânia uma sede da igreja que propagava por meio da palavra o evangelho, estimulando a fé e a conversão, instrumentos que conduziriam os fiéis a salvação. Desde 1936, portanto, a presença do pentecostalismo nas cidades goianas, vem sendo crescente, partindo inicialmente da cidade de Catalão no ano de 1902, até os dias atuais, fortalece-se a implantação dos templos e do número de fiéis.

Na atualidade, os 246 municípios goianos contam com a presença de templos da Assembleia de Deus cuja proposta é difundir uma fé cada vez mais viva, e propagar um batismo de conversão, alicerçados no livro dos Atos dos Apóstolos e na perspectiva da volta de Jesus Cristo.

3. A igreja Evangélica Assembleia de Deus em Guaraíta: história e transformações

                   De acordo com o relato do Sr. João de Deus Bueno de Jesus (2018), o Evangelho começou ser propagado antes da construção do templo. As primeiras reuniões foram realizadas na casa do Sr. José Bueno de Jesus, na Fazenda Ana Félix, a partir de 1950. Os primeiros convertidos da Igreja Evangélica Assembleia de Deus na região, que hoje corresponde ao município de Guaraíta, foram Domingos Bueno de Jesus, Davi Bueno de Jesus e João de Deus Bueno de Jesus, filhos do Sr. José Bueno de Jesus. Também converteram José Raimundo de Sousa, Adão Cordeiro de Faria, Pedro Pinto de Oliveira e duas mulheres, Filisbina Ferreira Coelho e Gercina Coelho da Rocha (JESUS, 2018). Estes, já eram membros da Igreja Assembleia de Deus que se iniciou na Congregação de Campininha, ponto de origem desta instituição na região que corresponde a Itapuranga-GO.

                   Após a conversão dos primeiros membros, foi construído um pequeno templo em frente a casa do Sr. José Bueno de Jesus para a realização dos cultos. O Sr. João Garcia de Morais (2018) afirma que os cultos eram realizados nas segundas-feiras e com a construção do templo passaram a ser realizados aos domingos, terças-feiras, quintas-feiras e sábados. O primeiro dirigente foi o Senhor Hermínio Benedito da Cruz, Davi Bueno de Jesus, Domingos Bueno de Jesus (1969 – 1971), Manoel Araújo Tavares (MORAIS, 2018). Por volta de 1969, o Sr. José Bueno de Jesus escolheu um terreno plano e de fácil acesso em sua propriedade e doou para a construção do novo templo. Conforme mostra a figura 01, o segundo templo construído na propriedade do Sr. José Bueno de Jesus.

                                   

Figura 01: Segundo templo da Igreja Assembleia de Deus na região da Guaraíta. Fonte (JESUS, 2018).

                   Na década de 1960 também se iniciou na região a construção de um povoado denominado Guará, os primeiros lotes foram doados pelo Sr. Ovídio de Morais Preto. Com o crescimento do povoado surgiu a necessidade de construir uma igreja no local, tendo em vista que o número de membros crescia (JESUS, 2018; MORAIS, 2018).

                   De acordo com o Sr. João de Deus Bueno de Jesus (2018), a Igreja Evangélica Assembleia de Deus foi construída no povoado Guará no início da década de 1980. A partir dessa data, o templo passou por reformas e ampliações a medida que ocorria a expansão do Evangelho. Em 29 de abril de 1992, o povoado Guará passou para a categoria de munícipio com a denominação Guaraíta. Com o desenvolvimento da cidade e o aumento do número de convertidos, o templo da Igreja Evangélica Assembleia de Deus passou por reformas e ampliações até chegar a estrutura atual, conforme mostra a figura 02.

 

Figura 02: Igreja Evangélica Assembleia de Deus de Guaraíta-GO.

Fonte: https://www.flickr.com/photos/145397692@N06/42873017790. Acesso em 29 de out. 2018.

Os pastores que passaram na Igreja Evangélica Assembleia de Deus da cidade de Guaraíta foram: João Pereira Marques (04/1971 - 01/1976), João Pereira de Almeida (01/1976 - 07/1980 e 04/1984 - 01/2001), Dornero Cesário Ribeiro (07/1981 - 12/1982), Ageu Lemes da Silva (01/1983 - 03/1984), Pedro Rosa de Oliveira (01/2001 - 03/2005) e Vergílio Xavier de Godói que está pastoreando a subsede desde 04/2005 até a presente data. É válido salientar que há divergências das datas e períodos da permanência dos pastores na Congregação de Guaraíta, tendo em vista que os registros são escassos, e a memória falha.

Com a propagação do Evangelho na região, foram criadas as regionais, igrejas localizadas no meio rural para atender a população. São nove regionais e seus respectivos pastores dirigentes até a presente data, Bela Vista – Pr. Jairo Pereira, Ribeirão – Pr. Edson Camilo, Pega com Deus – Pr. Colemar Rodrigues, Congonhas – Pr. Valdir Ribeiro Gonçalves, Grama – Pr. Milton da Mota, Monte Alegre – Pr. Divino Moreira, Monte Sinai – Pr. Antonio de Oliveira Júnior, Rosa de Saron – Valdelício e Fartura - Pr. Benedito Inácio.

De acordo com Pr. Gilmar Martins de Sousa (2018), vice pastor da Igreja Evangélica Assembleia de Deus da regional da Guaraíta e líder dos Encontros Regionais, são realizadas festividades nas igrejas regionais com o objetivo de expandir a pregação do Evangelho. Encontros Regionais, como foram denominadas essas festividades começaram em 2001, e constitui-se um momento de integração entre os membros das congregações e também de pregação do Evangelho. Ao ser questionado sobre as principais mudanças percebidas nas congregações nesses últimos anos, o Pr. Gilmar Martins de Sousa (2018) destaca:

Houveram algumas mudanças, no patrimônio destas igrejas houve melhoria nos templos e nas dependências dos mesmos, quanto membros e congregados nota que o número é diminuiu devido as mudanças das pessoas das pessoas das fazendas para cidades.

A partir do relato acima, nota-se que no aspecto de benfeitorias, tiveram significativas melhorias nas congregações, nos templos, casas pastorais, cantinas, banheiros, refeitórios e pátios. Entretanto, ocorreu uma diminuição dos números de membros devido o fluxo de migração dos moradores do meio rural para o meio urbano. O Pr. Gilmar Martins de Sousa pontua que no contexto atual, as atuações da Igreja Evangélica Assembleia de Deus de Guaraíta-Go, são:

A Regional de Guaraíta, ela tem como trabalho principal a evangelização, mas atua também na área social, pois são muitas famílias beneficiadas com doação de sacolas, medicamentos, viagens e outros, a igreja ela preza por não fazer nada com o objetivo de se propagar, porem faz destes trabalhos a divulgação do evangelho.

                   De acordo com o Pr. Gilmar Martins de Sousa, o papel da Igreja Evangélica Assembleia de Deus em Guaraíta vai além da pregação do Evangelho, pois a atuação social da instituição é bem presente na comunidade, como a doação de cestas básicas, auxílio financeiro para tratamento médico, viagens, remédios e contribuições para pagamento de despesas como água e energia de membros que, eventualmente, não conseguem pagar as despesas. Na área social, a Igreja atende não só os membros, como também pessoas da comunidade que necessitam, que também é uma missão da igreja.

Dessa forma, a transmissão da fé cristã oriundas no Brasil, com a presença portuguesa, difundira ao longo dos séculos maneiras distintas de culto a Deus, além de demonstrar uma pluralidade religiosa muito grande no território brasileiro, salientam a formação de diferentes culturas que propagam de maneira variada sua religiosidade. O cristianismo, ainda no período colonial, difunde-se a partir de duas vertentes religiosas, o catolicismo e o pentecostalismo, mostrando que o pensamento religioso possui diferentes formas para se expressar e isso, de maneira mítica, tem influência cultural.

A influência do cristianismo presente no pentecostalismo vivido pela Assembleia de Deus recorrera desde sua origem a um esforço mítico que foi ao longo de sua história difundindo sua especificidade frente ao “mercado de salvação” em curso no Brasil sobretudo, na primeira metade do século XX. Salientando uma mensagem peculiar, distinta e necessária à vida de distintos fiéis no país.

Nesse sentido, entende-se a sociedade é essencialmente uma memória, que nos possibilita concluir que o discurso das doutrinas católica, umbandista e o assembleiana mostravam-se como esforços em rememorar um passado mítico trazendo este para o presente, no intuito de continuar a converter para a fé um número cada vez maior de fiéis, como visualizamos na Igreja Evangélica Assembleia de Deus de Guaraíta-GO, que até o ano de 2018, contava com 515 membros e 310 congregados, totalizando 825 membros e congregados, isso demonstra uma preponderante atuação desta instituição, diante de uma população de 2.376 habitantes no município, de acordo com IBGE (2016).

Considerações finais

                   A partir do exposto, observamos que a presença da Igreja Evangélica Assembleia de Deus no Brasil é considerada recente, tendo como ponto de partida a chegada dos missionários suecos Gunnar Vingren e Daniel Berg, que viajavam pelo mundo pregando o batismo pelo Espírito Santo e a volta de Jesus, chegaram em Belém do Pará em 1911 e passaram a congregar na Igreja Batista. Por causa de suas pregações e o movimento espiritual foram expulsos e, fundaram a Igreja Missão de Fé Apostólica que, em 1918 foi denominada de Assembleia de Deus.

                   Por meio do trabalho missionário, a Igreja Evangélica Assembleia de Deus foi se expandindo e alcançou outras regiões e estados, como foi o caso do Estado de Goiás, com o processo de construção de Goiânia, por volta de 1936, vieram muitos trabalhadores membros da instituição que instalaram a Assembleia de Deus na região. A partir deste evento, expandiu-se pelo Estado e chegou na região que corresponde a Itapuranga-GO na década de 1950, sendo instalada em Guaraíta-GO no final desta década.    

                   De um pequeno templo construído na Fazenda Ana Félix de propriedade do Sr. José Bueno de Jesus, foi transferido para o povoado, e com o aumento da população e o intenso trabalho de pregação do evangelho, o número de membros aumentou e ao longo desses 60 anos de atuação na região, o templo passou por reformas e ampliações, e até o ano de 2018, contava com 825 membros e congregados.

                   Assim, notamos que a Igreja Evangélica Assembleia de Deus tem se destacado na pregação do evangelho e também no trabalho social com seus membros e congregados, isso é visualizado na expansão da instituição e no papel que desempenha no município, sendo referência no crescimento e expansão do Reino de Deus.

Referências

ALMEIDA, de Abraão. História das Assembleias de Deus no Brasil. CPAD. 2ª ed. Rio de Janeiro, 1982.

BÍBLIA. Português. Bíblia de Estudo Pentecostal. (Trad. João Ferreira de Almeida, ARC). Sociedade Bíblica do Brasil, São Paulo, Casa Publicadora das Assembleias de Deus, 1995.

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BUENO, Beatriz Piccolotto Siqueira. Dilatação dos confins: caminhos, vilas e cidades na formação da Capitania de São Paulo (1532-1822). Anais do Museu Paulista. São Paulo. N. Sér. v.17. n.2. p. 251-294. jul.- dez. 2009

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[1] Artigo apresentado como requisito para a conclusão do Curso em Teologia Modular pelo Centro Teológico Fatad. Sob orientação da professora Ma. Fabrízia Lúcia da Costa Coelho e do professor Esp. Valdeci de Almeida Coelho. Turma 2018.

[2] Aluna do Curso em Teologia Modular. Mestra em Ciências Sociais e Humanidades no Programa de Pós-Graduação Territórios e Expressões Culturais do Cerrado - TECCER (UEG-Câmpus Anápolis). Possui Especialização em Psicopedagogia Institucional (2010) pela Faculdade Delta e em Neuropedagogia Aplicada à Educação (2013), pela Faculdade Brasileira de Educação e Cultura (FABEC). Graduada em História (2006) pela Universidade Estadual de Goiás (UEG-Câmpus Itapuranga). Atualmente é Professora efetiva de História na Secretaria Municipal de Educação de Guaraíta-GO e no Curso de História da Universidade Estadual de Goiás, Câmpus Itapuranga. Possui o curso de Teologia Básico pela Faculdade Faifa Extensão.

[3] Membro da Igreja Evangélica Assembleia de Deus de Guaraíta-GO. Aluna do Curso em Teologia Modular. Possui o curso de Teologia Básico pela Faculdade Faifa Extensão. Funcionária Pública da Prefeitura Municipal de Guaraíta-GO.