Escrito em 29/01/19

ORGULHO

UM PECADO MILENAR E DE MANIFESTAÇÃO SUTIL

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Fabrízia Lúcia da Costa Coelho

Aluna do Curso em Teologia Modular do Centro Teológico FATAD

Artigo - <br />
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Resumo: Neste artigo objetivamos compreender como o pecado do orgulho é caracterizado à luz da palavra de Deus, ao trazer um panorama bíblico em torno dos fatos relacionados à sua origem. Outro aspecto a discutir é a avaliação de situações em que esse pecado pode estar presente em nosso cotidiano, neste prisma, levando-se em conta, muitas vezes, a sua sutilidade. Partindo dessas premissas, propomos um artigo de pesquisa bibliográfica, de natureza qualitativa, com a utilização dos seguintes autores como referências (BRIDGES, 2012, RUFINO, 2005, LEWIS, 2017, BARBOSA, 1984), dentre outros. O orgulho pode ser definido como um pecado grave, que precisa ser identificado e tratado através do arrependimento e por meio da transformação gerada pelo Espírito Santo na vida dos remidos e salvos por Jesus.

Palavras-chave: Orgulho. Pecados. Vida Cristã.

Introdução 

Um dos grandes desafios que temos, ao ler a Bíblia, é perceber e qualificar aquilo que é pecado e o que não é. Quem nunca ouviu de alguém a seguinte frase: “Para Deus não existe ‘pecadinho’ nem ‘pecadão’”? Embora este não seja um versículo bíblico, esse e outros tantos dizeres, por vezes, tomam conta de nossas redes sociais, aparecem em frases de camisetas, em palavras de pastores e cantores nas igrejas, etc.                        

Em relação a esta frase de que para Deus não existe “pecadinho” nem “pecadão, torna-se inescapável o interesse em aprofundar sobre este assunto, o pecado. Para esse fim, faremos um estudo bibliográfico, de cunho qualitativo, visando à caracterização de nosso tema e objeto de estudo (BARBOSA, 1984b). Nesse bojo, objetivamos a partir do pressuposto de que o pecado é coisa séria e de que Deus odeia e se ofende com o pecado (Sl. 11.15; Rm. 12.19), caracterizar o pecado do orgulho e analisar atitudes do cotidiano que demostram a manifestação desse pecado. 

[1] Artigo apresentado como requisito parcial à conclusão do Curso em Teologia Modular do Centro Teológico FATAD. Sob orientação da professora Damiana Antônia Coelho e do professor Valdeci de Almeida. Turma 2018.

[2] Membro da Igreja Ev. Assembleia de Deus de Itapuranga e professora da Sala Ester da Escola Bíblica Dominical (EBD). Professora do Curso de Letras da Universidade Estadual de Goiás e também do Colégio Estadual da Polícia Militar – CEPMG – Deputado José Alves de Assis. Mestre em Linguística Aplicada pela Universidade de Brasília (UnB).

 

Em I Pedro 1.16 está escrito que “Deus é luz e não há nele trevas nenhumas”. Ou seja, se Deus criou o homem “a sua imagem e semelhança” (Gn.1.27), Deus criou o homem perfeito. 


De acordo com Barbosa (1984a), o pecado nasceu como um pensamento no coração de Lúcifer, e esse pensamento foi colocado em ação. Ele disse em seu coração: “subirei ao Céu, acima das estrelas de Deus”, e “serei semelhante ao altíssimo” (Is. 14.13.14). Dessa forma, por se encher o coração de orgulho, rebelou-se contra Deus e foi lançado fora do céu. O mal já existia no universo antes que Adão e Eva fossem criados.


O orgulho foi o sentimento que dominou a mente e o coração de Lúcifer. É oportuno lembrar que Deus na sua sabedoria e vontade permitiu a todos o livre arbítrio. Isso equivale a dizer que o “anjo de luz” tinha a opção de querer ou não errar. Nota-se que o sentimento que alimenta esse tipo de pecado, denominado orgulho, é o senso insaciável e vil de superioridade. O orgulhoso, nesse sentido, torna-se uma pessoa satisfeita consigo mesma ao se considerar suficientemente justa e cheia de virtudes. 
No que se refere ao orgulho, Rufino (2005, p. 14) afirma que: 

Segundo a teologia cristã, o orgulho é o pecado que desencadeia todos os demais. Ele estimula a rebelião contra Deus, impedindo o reconhecimento da soberania divina sobre sua Criação. Assim, ao orgulhar-se, o homem além de auto-prejudicar-se, insurge-se arrogantemente contra Deus, aborrecendo-o e desafiando-o.

Segundo Júnior (1984, p. 68) “se pensamos que somos maiores e melhores, seremos dominados pelo orgulho”. Para Bridges (2012), o orgulho pertence a um grupo de pecados considerados “intocáveis” ou “aceitáveis” facilmente, aqueles que toleramos em nossa vida, por vezes até sem perceber, tais como: ciúme, raiva, ingratidão, inveja, mania de julgar as pessoas, ira e outros que fazem parte de uma lista inacabável.


Tendo em vista a exposição de nosso tema, propomos a discussão deste assunto, primeiramente, realizando um tópico inicial para discorrer sobre o que é o pecado à luz da Bíblia. Nesta parte, interessa-nos reconhecer como o pecado se originou e como o pecado do Orgulho deve ser definido e identificado através de passagens bíblicas.

Em segundo lugar, tentaremos fazer um levantamento de atitudes e pensamentos que evidenciam a presença desse pecado na vida das pessoas. Nesse sentido, será crucial a abordagem de alguns personagens bíblicos. 


Por fim, torna-se importante, de forma sucinta, trazer também algumas orientações para percebermos como Deus pode trabalhar na vida de cada pessoa a fim que o pecado do orgulho possa ser neutralizado. Este artigo aborda, de forma direta, como podemos reconhecer pecados que, de certa forma, não são tão óbvios para a maioria de nós (BRIDGES, 2012; LEWIS, 2017)

No tópico a seguir, então, discorreremos sobre como o pecado pode ser caracterizado e buscaremos trazer subsídios que tornam possíveis a identificação do pecado do orgulho.

1 – Definindo o pecado

O maior mal que entrou no mundo se chama pecado, o qual é definido por Barbosa (1984, p.76-77a) a partir de palavras sinônimas, a saber: “transgressão” (Hb.2.2); “impiedade” (Rm1.18; Tt. 2.12); “injustiça” (Rm1.18); “desobediência” (Hb. 2. 2); “iniquidade” (Rm 2.8; I Jo. 5.17) e “errar o alvo” (Jz. 20.16).

Barbosa (1984a) explica que a origem do pecado está em Lúcifer, o Diabo, e o próprio Jesus revela a origem do pecado em Jo. 8.44 quando afirma: “o diabo foi homicida desde o princípio”, “mentiroso” “e pai da mentira” e em I Jo. 3.8: “O diabo peca desde o princípio”. Ademais, acrescenta que “por um homem estrou o pecado no mundo” (Rm. 5.12)

Barbosa (1984, p.75a) esclarece que “Adão e Eva por um ato de desobediência, conscientemente cometido, abriram a porta pela qual o inimigo entrou e com ele todo o mal que trazia”. Segundo Júnior (1984, p. 35), “Este mundo, amaldiçoado pelo pecado, não é o lugar que Deus desejava para o seu povo”.

O pecado do homem fez com que Deus expulsasse Adão e Eva do paraíso e consequentemente gerasse o sofrimento humano, direta ou indiretamente, e, obviamente, a conclusão a que se chega é a de que o sofrimento acontece porque Deus deu ao homem livre arbítrio e este resolveu pecar. (JÚNIOR, 1984).

Quando lemos a Bíblia, vemos que os pecados possuem diferentes graus de malignidade, “Era, pois, muito grande o pecado desses jovens perante o SENHOR, porquanto os homens desprezavam a oferta do SENHOR.” (I Sm. 2.17), no entanto, é salutar lembrar que todos os nossos pecados é um tipo de rebelião contra Deus, contrapondo-se a sua vontade soberana:

Porque as nossas transgressões se multiplicaram perante ti, e os nossos pecados testificam contra nós; porque as nossas transgressões estão conosco, e conhecemos as nossas iniquidades; como o prevaricar, e o mentir contra o SENHOR, e o retirarmo-nos do nosso Deus, e o falar de opressão e rebelião, e o conceber e expectorar do coração palavras de falsidade. (Is. 59.12-13, grifo nosso)

Bridges (2012, p. 15) explica que “pecado abrange uma variedade de maus comportamentos inadequados. Envolve de fofoca a adultério, de impaciência a assassinato. Claro que pecado tem diferentes graus de seriedade, mas em última análise, pecado é pecado”. Ainda segundo o autor, um grande problema que precisamos enfrentar é o fato de que, nós os cristãos, não achamos que práticas como fofoca ou impaciência sejam pecados. E vai mais além, segundo ele, o senso comum revela que o que consideramos pecado é o que os não salvos fazem.

Em relação ao nível que costumamos “medir” a gravidade do pecado, as palavras severas que a Bíblia usa em relação ao pecado foram banidas de nosso meio, “as pessoas não adulteram mais; elas têm casos. Os executivos não roubam; eles cometem fraude” (BRIDGES, 2012, p. 19). Nota-se, dessa forma, que há uma intenção clara de minimizar a força da gravidade do pecado em nosso meio.

Por outro lado, tendemos a condenar pecados óbvios “enquanto ignoramos nossos pecados de fofoca, orgulho, inveja, amargura, luxúria [...]” (BRIDGES, 2012, p.19). Segundo Rufino (2015, p. 11), “o sentimento odioso produzido pela ira assemelha-se ao homicídio, assim como o olhar cobiçoso equivale ao adultério (Mt. 5.21,22,27,28; Tg. 3.14-16). Além disso, tanto a prática do mal como a negligência em fazer o bem, também são pecados (Lc. 10. 30-37; Tg.4.17)”.

Em Tiago 2. 8-11 vemos claramente a sentença sobre aqueles que transgridem a Lei de Deus:

8 Todavia se cumprirdes, conforme a Escritura, a lei real: Amarás a teu próximo como a ti mesmo, bem fazeis.

9 Mas, se fazeis acepção de pessoas, cometeis pecado, e sois redarguidos pela lei como transgressores.

10 Porque qualquer que guardar toda a lei, e tropeçar em um só ponto, tornou-se culpado de todos.

11 Porque aquele que disse: Não cometerás adultério, também disse: Não matarás. Se tu pois não cometeres adultério, mas matares, estás feito transgressor da lei. (grifo nosso)

Dessa forma, entendemos que temos uma lei de Deus, não várias. Deus não trata o pecado com severidades de acordo com leis individuais com suas respectivas punições. Assim, “quando alguém comete assassinato, quebra a lei de Deus. Quando alguém deixa que palavras corruptas (ou seja, que devastam outra pessoa) saiam de sua boca (Ef. 4.29), ele transgride a lei de Deus” (BRIDGES, 2012, p. 20).

De acordo com Bridges (2012), na cultura grega antiga, pecado significa “errar a marca”, isto é, não acertar o alvo em cheio. Assim pecado era considerado um erro de cálculo ou um insucesso em uma determinada tarefa. Para o autor supracitado, esse conceito é válido para nós ainda hoje, pois nosso desejo de quando nos arrependemos de um pecado, é se livrar dele, mas, por vezes, fracassamos repetidamente. É como uma pessoa que está buscando acertar o alvo, mas não consegue. Bridges (2012, p. 21) nos esclarece sobre isso:

Os pecados normalmente não resultam de fracassos em nossas tarefas, mas de um anseio interior de satisfazermos nossos desejos. Como disse Tiago 1.14: “Cada um é tentado quando atraído e seduzido por seu próprio desejo”. Fofocamos ou cobiçamos por causa do prazer momentâneo que isso nos dá. Na hora, a sedução daquele prazer momentâneo é mais forte do que o desejo de agradar a Deus.

Mediante a palavra de Deus, então, o caminho que o homem deve percorrer a fim de se livrar da culpa pelo pecado é por intermédio do arrependimento e do abandono do pecado, direito conquistado pelo sangue de Cristo derramado na cruz por nós “[...] sem derramamento de sangue não há remissão de pecados” (Hb. 9.22).

Em Pv. 28.13 está escrito que “o que encobre as suas transgressões nunca prosperará, mas o que as confessa e deixa, alcançará misericórdia”. Os que desejam vencer o pecado precisam de se arrepender, confessar e abandonar as suas práticas errantes.

Outro aspecto notório sobre o pecado é que ele gera em nós tristeza. Em II Co. 7. 10 está escrito: “porque a tristeza segundo Deus opera arrependimento para a salvação, da qual ninguém se arrepende; mas a tristeza do mundo opera a morte”. Nesse sentido, a tristeza opera em nós como um gatilho para o arrependimento e a busca do perdão, verdadeiramente, concedido pela graça, mediante a fé.

Dito isso, iremos aprofundar um pouco a noção sobre o pecado do orgulho.

1.2 – Compreendendo o pecado do “orgulho”

Nas palavras de Rufino (2005, p. 13), o orgulho pode ser definido como um “conceito elevado que alguém faz de si mesmo; senso de superioridade; arrogância; soberba, presunção; ostentação; vaidade; abuso; desrespeito; amor-próprio exagerado” e age como uma doença contagiosa que cauteriza a mente (Dn. 5.20; Mc.7.20,22).

Existem pecados que são considerados pecados “toleráveis” em relação a outros pecados (BRIDGES, 2012). Todavia, isso não quer dizer que não devemos nos preocupar com eles, pelo contrário, trata-se de uma necessidade diária a evangelização de nós mesmos. De acordo com o autor supracitado, em nosso meio, existe uma ideia de que devemos pregar para as pessoas não crentes, gerando uma impressão de que os crentes que já aceitaram a fé em Jesus estão isentos de cometer pecados.

Bridges (2012, p. 44) nos alerta para o fato de que o “o Espírito Santo trabalha em nós para nos convencer e nos fazer cientes dos pecados sutis. Ele trabalha em nós para nos capacitar e matar esses pecados”. O orgulho está na lista dos pecados sutis mencionados por Bridges[3].

Nas palavras de Rufino (2005), o orgulho é reflexo óbvio da desobediência a Deus ou da não dependência à sua vontade. Esses casos podem ser evidenciados na impaciência de Abraão (Gn.16), na sedução pela aparência de Ló (Gn.13.8-13), da não consulta a Deus por Josué na tomada de decisão (Js. 9.14,15), na autossuficiência de Sansão (Jz. 14.1-3), na soberba de Davi (II Sm. 11.1-15) a ponto de mandar matar seu amigo.

São vários os exemplos bíblicos que poderíamos discorrer e que trazem advertências ou lições a nós nos dias de hoje, que não diferentemente, nos seduzem a cair no mesmo engano. Os episódios de pessoas que incorreram nesse pecado tinham vida exemplar, nem por isso se livraram da tentação de serem seduzidos pelo orgulho. Nesses casos, o fato de Josué ter perspicácia de liderança, Davi ser o homem segundo o coração de Deus e até mesmo Sansão ser um ungido e separado de Deus, não garantiram a blindagem do veneno do orgulho.

Em Pv. 16.18 está dito que “A soberba precede a ruína, e a altivez do espírito precede a queda”. A prática da humildade precisa vencer o orgulho que tenta nos seduzir. Rufino (2005) delineia que o pecado do orgulho é algo ridículo ao consideramos nossa natureza tão frágil e limitada. Por exemplo, nossa vida é tão curta que o salmista a considera como um conto ligeiro (Sl. 102.30), somos também assemelhados a erva (I Pe. 1.24), fumaça que esvanece (Sl. 102.3), pó (Sl. 103.14; Ec. 3.20) e cinza (Gn.3.19).

O pecado do orgulho precisa ser enfrentado e vencido diariamente em nossas vidas. Em Romanos 8.13-14 está explicado “Porque, se viverdes segundo a carne, morrereis; mas, se pelo Espírito mortificardes as obras do corpo, vivereis. Porque todos os que são guiados pelo Espírito de Deus, esses são filhos de Deus”. O Espírito Santo é quem tem o poder de trabalhar em nós neste processo. Será preciso, para isso, pôr em prática a nossa salvação e agir de fato na busca pela capacidade em lidar e mortificar o nosso orgulho.


[3] Em seu livro “Pecados Intocáveis” (BRIDGES, 2012), o autor enumera alguns pecados sutis, tais como: impiedade, ansiedade e frustração, insatisfação, ingratidão, orgulho, egoísmo, descontrole, impaciência, irritabilidade, ira, inveja, ciúme, e a lista segue.

Para uma melhor compreensão de como podemos identificar as manifestações do pecado do orgulho, propomos o tópico a seguir com algumas descrições de alguns casos em que podemos perceber atitudes sutis e venenosas.

2 – Algumas manifestações do orgulho[4]

Neste tópico, objetivamos analisar mais detalhadamente sobre algumas manifestações do pecado do orgulho em nosso meio. Dentre as atitudes, elencamos as seguintes: O orgulhoso é alguém que tenta ajudar a Deus; O orgulhoso é alguém que gosta de honras pessoais; O orgulhoso possui excessivo desejo de se justificar; O orgulhoso possui um discurso contraditório.

2.1- O orgulhoso é alguém que tenta ajudar a Deus

Um dos pontos em que o orgulho pode ser melhor evidenciado é quando proferimos palavras e oramos a Deus. Quando na verdade, deveríamos render a nossa mais profunda humildade diante de Deus, pode ser um momento em que manifestamos nosso orgulho de independência (RUFINO, 2005).

Quando entregamos a nossa vida ao Senhor e os nossos caminhos, podemos descansar nele. Em sentido contrário, quando não vivemos na total dependência dele e em seu cuidado para conosco, tentamos agir por conta própria, demostramos ansiedade (Fp. 4.6), tentamos cobrar soluções urgentes para as nossas causas: “Apressa-te, ó Deus, em me livrar; SENHOR, apressa-te em ajudar-me” (Sl.70.1)

O grande mal que isso apresenta é a tentativa de, despropositadamente, ocupar o lugar de Deus, desmerecendo sua soberania na tentativa de “ajudar a Deus”, pois a situação de dependência o incomoda (RUFINO, 2005). Em Ec. 3. 17 percebemos que Deus é o único que tem autoridade e legitimidade para ordenar sobre o tempo: “Eu disse no meu coração: Deus julgará o justo e o ímpio; porque há um tempo para todo o propósito e para toda a obra”.

Quanto a isso, é necessário reconhecer nossa posição de submissos ao Todo-poderoso: “Arrependei-vos, pois, e convertei-vos, para que sejam apagados os vossos pecados, e venham assim os tempos do refrigério pela presença do Senhor” (At. 3.19) e “Humilhai-vos, pois, debaixo da potente mão de Deus, para que a seu tempo vos exalte” (I Pe. 5.6).


[4] Em nosso artigo não temos a intenção de elencar e esgotar todas as manifestações de orgulho presentes em nosso cotidiano a partir do embasamento bíblico. Até mesmo porque reconhecemos a complexidade e a amplitude deste assunto, no qual, aqui, objetivamos apenas trazer uma problematização mais geral e sucinta.

2.2- O orgulhoso é alguém que gosta de honras pessoais

Em outras palavras, esse tipo de orgulhoso preza por elogios a seu respeito e bajulações. Rufino (2005) explica que, diante de Deus, quanto mais consideramos que somos dignos e merecedores de elogios e bênçãos, menos abençoados seremos por Ele.

Em Jo. 5.44 é feita uma pergunta: “Como podeis vós crer, recebendo honra uns dos outros, e não buscando a honra que vem só de Deus?” Em outras palavras, isso equivale a dizer que se Deus não se agradar de nós, de nada acrescenta o comentário do meu próximo de aprovação a nosso respeito.

Em Is. 2.11 está escrito: “Os olhos altivos dos homens serão abatidos, e a sua altivez será humilhada; e só o SENHOR será exaltado naquele dia”. Esse verso evidencia de forma esclarecedora que esse tipo de pessoa não prospera.

O jovem rico é um exemplo claro sobre esse tipo de pecado (Mt.19.16-22). O jovem abordou Jesus com uma bajulação chamando-o de “bom mestre”. Jesus logo respondeu a ela com uma negativa engrandecendo ao único que é bom, Deus. Ao ler a narrativa, vemos que ele esperava o reconhecimento público de seus atos. Segundo o que o jovem afirma, “aqueles” pecados mencionados ele já os cumprira desde a sua mocidade, tendo a ousadia de perguntar em seguida o que mais lhe faltava. Ou seja, os seus méritos eram muitos, ele não conseguia ver falhas em seu caráter.

A resposta dada por Jesus “ainda te falta uma coisa” o entristeceu. Ele foi confrontado pelo seu orgulho e não conseguiu ter outra atitude a não ser se retirar. Sem dúvida, o que Jesus queria dizer a ele era: faltou-te a humildade de reconhecer que o evangelho genuíno não se baseia na promoção de ninguém, mas da renúncia, do sacrifício e da entrega, pois o próprio Cristo se recusou ser chamado de bom ou de receber qualquer tipo de glória.

2.3 – O orgulhoso possui excessivo desejo de se justificar

O orgulhoso jamais admite a possibilidade de estar equivocado (RUFINO, 2005). Nesse sentido, em um determinado assunto, mesmo não tendo razão, busca de todas as formas ratificar sua posição como a mais correta. Em I Co. 8.1b,2 está dito: “A ciência incha, mas o amor edifica. E, se alguém cuida saber alguma coisa, ainda não sabe como convém saber”. O sentido da primeira parte do versículo 1 é o de afirmar que o conhecimento traz orgulho.

É importante notar que o orgulhoso sempre terá a pretensão de se sentir superior, e aqui, não sentirá receio de idolatrar suas conjecturas e se colocar acima de todos. Segundo Rufino (2005, p. 16), “o desrespeito para com o próximo é sempre uma evidência incontestável de orgulhoso e gera vários tipos de práticas abusivas e violentas, como: agressões, ameaças, chantagens, vingança, etc”.

Nas palavras de Bridges (2012), o orgulhoso carrega sempre um senso de superioridade consigo, então ele é sempre o que tem a razão, é moralmente correto e o dono da verdade.

2.4 – O orgulhoso possui um discurso contraditório

Rufino (2005) explica que quanto maior for o orgulho, mas fácil de perceber na vida das pessoas e que o grande perigo deste pecado reside na dificuldade de percebermos em nós. Em Lc. 6.41 é feito o seguinte questionamento: “E por que atentas tu no argueiro que está no olho de teu irmão, e não reparas na trave que está no teu próprio olho?

Em si, o orgulhoso carrega e expressa um sentimento de alegria em relação as virtudes ou coisas que possui, até mesmo da sua humildade, a ponto de se considerar superior a outras pessoas, podendo desprezar ou insultar pessoas que apresentam um comportamento diferenciado do seu grupo social.

Na parábola do fariseu e do publicano (Lc. 18.9-14), vemos a arrogância estampada na oração do fariseu quando afirmava não ser como os demais homens, ou seja, ele não se via como pecador, sequer como aquele publicano: “O fariseu, estando em pé, orava consigo desta maneira: O Deus, graças te dou graças porque não sou como os demais homens, roubadores, injustos e adúlteros; nem ainda como este publicano” (Lc.18.11). Quanto ao prazer das virtudes que praticava, ele assim dizia: “Jejuo duas vezes na semana, e dou os dízimos de tudo quanto possuo” (Lc.18.12). Ele sentia gratidão a Deus pela humildade que possuía e por ser quem ele era, isto é, reto perante os seus olhos.

A atitude do publicano, inversamente, demostra a atitude humilde que devemos ter diante de Deus, sequer ele erguia os olhos ao céu em total submissão a Deus, preferia bater em seu próprio peito e confessar suas mazelas e o quão pecador era (Lc.18.13). Notoriamente ele foi alcançado pela misericórdia de Deus e pôde receber a justificação: “Digo-vos que este desceu justificado para sua casa, e não aquele; porque qualquer que a si mesmo se exalta será humilhado, e qualquer que a si mesmo se humilha será exaltado” (Lc. 18.14)

O sentimento do orgulho é sutil, quase inconsciente e deve ser banido do nosso meio. É desagradável alguém que se comporta ou pensa ser mais virtuoso do que os outros. Assim, torna-se indispensável orar e buscar de Deus a capacidade de identificar e condenar tal atitude. Nossa postura diante do próximo será sempre de amor e misericórdia, pois todos somos passíveis e pecados, ainda que involuntários (Lc.6.36).

3 – Neutralizando as manifestações de orgulho na nossa vida.

O exercício da empatia pode ser uma boa prática neutralizadora desse tipo de mal (RUFINO 2005). Isso acontece quando nos imaginamos na posição daquele que criticamos, ou seja, como nos sentiríamos se estivéssemos no lugar do outro que está vivendo esta situação? Em Lc. 18.9-14, Cristo nos deixa uma parábola do fariseu e do republicano: “E disse também esta parábola a uns que confiavam em si mesmos, crendo que eram justos, e desprezavam os outros” (Lc.18.9).

Neste episódio, claramente percebemos a superioridade do orgulhoso e a atitude de menosprezo em relação ao seu próximo. Para nos justificarmos desse pecado, é preciso inicialmente desenvolver a prática da empatia em relação ao nosso próximo. A atitude de desprezar e inferiorizar o outro são degradantes para o servo de Deus, até mesmo porque em Fl. 2.3 há a seguinte orientação: “Nada façais por contenda ou por vanglória, mas por humildade; cada um considere os outros superiores a si mesmo”

Outra prática que interessa-nos observar está embutida na ideia de que devemos pregar o evangelho a nós todos os dias (BRIDGES, 2012). A verdade é que pelo fato de estarmos crentes, não estamos imunes ao pecado. Pelo contrário, o cuidado para não pecar deve ser uma prática constante na vida do cristão autêntico, que nas palavras de Bridge (2012, p. 44), diz: “Pregue o evangelho a você mesmo todos os dias”.

Bridges (2012) estabelece um paradoxo existente entre os cristãos hoje. De um lado temos um grupo que são fiéis e humildes e que cada vez mais tem consciência dos seus pecados aceitáveis em suas vidas e que sofrem no seu íntimo por causa deles. De outro lado, temos um batalhão de gente que critica asquerosamente os pecados repulsivos dos outros e, contudo, parecem orgulhosamente esquecidos de seus próprios pecados.

Considerações Finais

O pecado do orgulho possui um histórico sombrio na história da humanidade. Pode ser entendido, conforme já exposto acima, como a origem de todos os outros pecados.

O pecado do orgulho traz consigo um detalhe ardiloso, quase sempre é inconsciente por parte que o possui. Sua identificação e tratamento torna-se, por vezes, uma disposição do indivíduo dada pelo Espírito Santo de Deus para que cave o mais fundo do nosso ser e encontre espaço para uma limpeza espiritual. Sabemos pela Bíblia que não importa se temos ou não consciência do pecado, ele é asqueroso aos olhos de Deus e merece seu castigo (BRIDGES, 2012).

Assim, torna-se oportuno considerar que o pecado independente de ser obviamente nojento em nossa sociedade, assim como os pecados “aceitáveis” em nosso cotidiano, são afrontas ao nosso Deus, que odeia e aborrece o pecado. É preciso reconhecer que se não fosse a graça de Deus derramada em nós, estaríamos condenados e sem esperança, assim, é preciso aprender com o Cristo a amar o próximo, assim como Ele nos amou, com humildade de alma.

Assim, resta considerar que o pecado do orgulho, tópico de discussão deste artigo, merece nossa atenção enquanto cristãos, assim como também outros pecados intocáveis, admissíveis sem muita preocupação por nós, visto que se pensarmos em grau de malignidade conforme o senso comum, seria o mesmo que pensar que Lúcifer não fez nada de errado quando afrontou o criador com sua ambição de poder, demostrando a sujeira que existia em seu coração. Ignorar tal aspecto é negar as consequências terríveis que este mal nos causou.

Referências

BARBOSA, J. Teologia Sistemática. Centro Teológico FATAD. Curso de Teologia Modular. Goiânia: Editora Visão. 1984ª

Metodologia. Centro Teológico FATAD. Curso de Teologia Modular. Goiânia: Editora Visão. 1984b

BÍBLIA. Português. Bíblia de Estudo Pentecostal. (Trad. João Ferreira de Almeida, ARC). Sociedade Bíblica do Brasil, São Paulo, Casa Publicadora das Assembleias de Deus, 1995.

BRIDGES, J. Pecados intocáveis. São Paulo: Editora Vida Nova, 2012

JÚNIOR, I. L. Vida Cristã. Centro Teológico FATAD. Curso de Teologia Modular. Goiânia: Editora Visão. 1984

LEWIS, C. S. Cristianismo puro e simples. Traduzido por Gabriele Greggersen. 1ª ed. Rio de Janeiro: Thomas Nelson Brasil, 2017.

RUFINO, C. Vencendo os sete pecados capitais. 2ª ed. Belo Horizonte: Editora Grei, 2005.